25 de Janeiro de 2012

   

Indignação! Foi este o sentimento que me invadiu aquando da leitura do artigo anti-greve do Sr. Salvador de Sousa, mais um arauto da resignação.


    Sem coragem para defender abertamente a sua posição anti-greve, afirma “o direito à greve é inquestionável, mas haja consciência”, isto é, o direito deve estar consagrado mas não deve ser exercido. É como aquele vinho especial que se tem em casa, tem-se mas não se bebe, ou melhor, bebe-se em alturas especiais, tal como a greve para o Sr. Sousa “só em casos muito graves”.


    O momento, em liberdade, mais ofensivo para os direitos dos trabalhadores, incluindo os mais básicos como salário, horário e segurança laboral não é para o Sr. Sousa altura dos trabalhadores exercerem conscientemente o direito à greve.


    A greve é mais do que um direito consagrado na lei, deve ser exercida pelos trabalhadores, mesmo quando não está legislada, na defesa dos seus interesses, porque está estreitamente ligada à vida laboral assente na exploração.


     A greve é uma consciência colectiva dos trabalhadores, não é filha da democracia.


   Tempos idos, mas não enterrados, milhares e milhares de trabalhadores fizeram conscientemente greve, mesmo sabendo que implicava consequências dramáticas: a prisão, a tortura e até a morte. Foi essa consciência colectiva, forjada no local de trabalho, que permitiu aos trabalhadores conquistas importantes como as 8 horas diárias de trabalho. Foi essa determinação, essa coragem, essa consciência desses trabalhadores que serviu de exemplo às gerações seguintes, que é com resistência, com luta e não de chapéu na mão que os trabalhadores garantem direitos que vão de encontro às suas aspirações.


    Não se defende direitos abdicando deles!


    Diálogo! Diálogo é que é preciso, “deve prevalecer o diálogo” - defende o Sr. Sousa. Omitindo, para melhor defender a sua tese, que a greve é uma forma superior de luta, que quando decretada significa que todas as outras etapas já foram ultrapassadas.


    O que dizer da concertação social (diálogo) que resultou no aumento de salário mínimo para 500 euros e, posteriormente, metido na gaveta pelo governo de Sócrates e pelos patrões. É o que dá negociar com gente de pouca confiança!


    O que dizer da recente concertação social em que o ponto de partida e chegada é um conjunto de medidas amputadoras dos direitos fundamentais dos trabalhadores.


    Perante este quadro o que resta aos trabalhadores na defesa dos seus direitos?
    “Mais vale ser um cão raivoso/ do que uma sardinha/ metida, enlatada na lata/ educadinha/ pronta a ser comida, engolida, digerida” - canta o Sérgio Godinho.


    “Os partidos, os sindicatos, ..., todos nós devemo-nos unir” - defende o Sr. Sousa.


    Na paz do Senhor, dai as mãos e caminhai rumo à felicidade – defendo eu.


    A unidade não é o problema, o problema é com quem e que caminho percorrer. O caminho que estamos a percorrer de desastre nacional? Ou o caminho de valorização de trabalho, de defesa do nosso sistema produtivo, do fim da finança especulativa e dos grupos económicos estranguladores dos direitos dos trabalhadores e pequenos empresários. O caminho que garanta a equidade do bem-estar.


    A unidade dos trabalhadores é essencial. A greve é acima de tudo a luta unitária.


    Em tempos de crise, a questão não está em reconhecer a necessidade de sacrifícios. A questão está a quem são exigidos os sacrifícios e, fundamentalmente, qual o seu objectivo. Os sacrifícios estão a ser exigidos aos trabalhadores que não contribuíram para a crise e são dela as principais vítimas, deixando de fora os grandes grupos financeiros e económicos causadores da crise e seus beneficiários, com o objectivo de aprofundar as desigualdades, a exploração de milhões de trabalhadores e satisfazer a gula lucrativa e desumana do capital.


    A luta colectiva no local de trabalho e a greve, forma superior de luta, são, hoje, para os trabalhadores não um direito, mas uma necessidade.

publicado por subterraneodaliberdade às 23:18
*Por Salvador de Sousa

O direito à greve é inquestionável, mas haja consciência (2)

O vocábulo “indignação”, que o Sr. Mário Figueiredo aplicou no início do seu texto do dia 25 de janeiro “Consciência da greve”, gerou em mim a mesma indignação pela ignóbil interpretação daquilo que quis transmitir aos leitores deste prestigiado diário. Espero que perceba que não fiquei “indignado” pelo seu direito de pensar, de responder, mas sim pela total falsidade que transmitiu aos leitores em relação à minha pessoa. Nunca abdiquei dos meus princípios, sempre os defendi corajosamente em qualquer situação que me encontre. Meu caro Sr. Figueiredo, fique a saber que sempre me revoltei e revolto contra as situações de injustiças que se observam aqui e por esse mundo além. Ainda me lembro da luta que, sobretudo, na Polónia (não falando de outros países de leste) se desencadeou com um simples eletricista, Lech Walesa, na frente da revolta de um povo sedento dos seus direitos, tendo como resposta a repressão e a condenação em massa. É aqui, Sr. Figueiredo, que se aplica aquele princípio que o Sr. referiu: “A greve é uma consciência coletiva dos trabalhadores, não é filha da democracia”, mas é preciso que nos países democráticos, as mesmas forças políticas dos governos desses países tenham essa consciência. Presenciei, nessa altura, muita passividade da parte de alguns setores da sociedade que não foram capazes de levantar a sua voz em defesa dessa gente sofredora e que, neste país, apregoavam e apregoam tanto a defesa do trabalhador (totalmente de acordo), mas é preciso ser coerente, “defender os direitos e não abdicar deles” seja qual for o regime político.
Fique a saber, caro Sr. Mário, que nunca deixei de revelar o meu repúdio por todas essas situações (é natural que o Sr. Figueiredo faça o mesmo) contra um direito que era e continua a ser a arma fundamental para se conseguir alcançar aquilo que, graças a Deus, já temos neste nosso país e que, infelizmente, muitos ainda não têm. Nunca fui hipócrita. Revelei sempre, convictamente, os meus ideais e nesse artigo não fugi à regra: demonstrei, com coragem, tudo o que penso sobre o direito à greve que está claríssimo no meu texto, só não entende quem não quer ou tenha dificuldade em interpretar a objetividade da minha escrita como sempre pretendi fazer para que não haja dúvidas naquilo que pretendo transmitir.
O Sr. Figueiredo apresenta, logo no início do seu texto, uma comparação muito infeliz: entende que é normal beber todos os dias um vinho especial, de elevado preço? Não compare esses momentos especiais, dias festivos, com a greve em momentos muito graves. No seio de uma família há que saber gerir e ninguém pode reivindicar aquilo que não há. Por isso, ter em casa algo de especial para consumir só em momentos festivos (mas não graves!) é totalmente aceitável. O Sr. Figueiredo, querendo ser irónico, construiu uma comparação totalmente absurda. Uma família, tal como uma empresa, um país, não podem viver acima das suas possibilidades, pois ninguém pode dar aquilo que não possui. Que interessa fazer greve numa empresa onde de antemão se sabe que ali não há mais para dar? Não confunda, Sr. Figueiredo, e não diga que sou contra as greves interpretando mal estas minhas palavras. Sou a favor, isso sim, numa empresa com grandes lucros e os trabalhadores com salários de miséria ou num país com o seu PIB a crescer (como é o caso da China e outros) e não haver justiça salarial. Como posso, Sr. Mário, ser antigreve se já fiz algumas vezes ao longo da minha carreira? Uma coisa lhe posso garantir, também não aderi a muitas porque entendia que não tinham razão de existir, pois, a meu ver, poderiam contribuir para arruinar empresas e, até, o próprio país, lançando os trabalhadores no desemprego. Sr. Figueiredo, uma greve não pode ser feita de ânimo leve, só por estar este ou aquele partido no poder. Devem ser decisões muito ponderadas, bem analisadas para que os resultados pretendidos sejam minimamente alcançados.
O Sr. Figueiredo construiu um pensamento sábio, mas incoerente com aquilo que defende, a não ser que quisesse ser engraçado: “Na paz do Senhor dai as mãos e caminhai rumo à felicidade” para associar àquilo que disse no meu texto “os partidos, os sindicatos, todos nós devemo-nos unir”. Não
Salvador de Sousa a 8 de Fevereiro de 2012 às 00:08
Continuação do texto anterior:
Não usemos “o nome de Deus em vão”, não misturemos aquilo que é de César e aquilo que é de Deus. Onde está a união quando se é contra um acordo de concertação social que não foi assinado apenas por uma força sindical e que a grande maioria dos partidos acharam, neste momento difícil, apoiar? Onde está a razão? Numa minoria que quer impor-se a todos os outros que entendem de maneira diferente? Onde estão os ideais democráticos? Não é melhor o diálogo do que andar constantemente em greves arruinando cada vez mais o país? Todos os que assinaram o acordo são antigrevistas ou são conscienciosos nas suas atitudes? Acha que sou antigreve por defender esses princípios? Não tenhamos sempre a mesma cassete, pois chega a certo ponto que se torna enfadonha e inútil. Finalmente uma coisa lhe posso dizer: na interpretação do meu texto deixou muito a desejar, pois não admito que me chamem aquilo que nunca fui “antigrevista”.

Salvador de Sousa a 8 de Fevereiro de 2012 às 00:12
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