Tempos difíceis, Tempos de Luta
Os discursos do Presidente da República e de António Barreto, no 10 de Junho, constituíram dois indecorosos exercícios de uma hipocrisia só possível vinda de quem possui muita tarimba na matéria.
O apelo de Cavaco Silva para o regresso aos campos – feito por quem foi carrasco e coveiro da agricultura portuguesa nos dez anos em que foi primeiro-ministro – só é explicável à luz de um profundo desrespeito pela inteligência e a sensibilidade dos portugueses.
Do mesmo modo, a referência aos supostos «riscos incalculáveis» que correríamos se o programa da troika ocupante não fosse cumprido pela troika colaboracionista, não passa de uma tosca tentativa de procurar esconder dos portugueses que o cumprimento do programa da troika é que é, ele sim, um incalculável passo em frente no afundamento do País - pelo que rejeitá-lo constitui um dever patriótico.
O Presidente da República diz o que lhe vai na alma quando clama que «é Portugal inteiro que tem de se erguer nesta hora decisiva» e que isso implica «inevitáveis sacrifícios» - já que, com isso, o que quer dizer é que os sacrifícios, como sempre, são para os trabalhadores e o povo, ficando os lucros, como sempre, para o grande capital.
De Barreto, bastaria dizer que o seu nome ficará para sempre ligado àquele que foi o momento mais sombrio vivido depois do 25 de Abril: a destruição da Reforma Agrária, com a brutal repressão, os assassinatos, afrontando a Constituição da República Portuguesa – a Constituição que Barreto, no seu ódio visceral a tudo quanto cheire a Abril, quer agora liquidar.
Sublinhe-se que a crítica de Barreto aos políticos assenta como uma luva tanto em quem a faz como em quem convidou o falante.
De resto, tratou-se de um discurso velho, bacoco, pateta – mas profundamente reaccionário - que atinge a suprema agonia quando a ridícula criatura decide passar a tratar Portugal por tu...
Enfim, falaram, ambos, como políticos da política direita que, de facto, são. Com responsabilidades diferentes, mas em ambos os casos grandes, enormes, no estado a que Portugal chegou.
Fonte: Jornal "Avante!"