O "bom aluno"
Nas comemorações do 10 de Junho, o Presidente da República, Cavaco Silva, decidiu promover a «aposta na agricultura», afirmando as suas preocupações com o «défice alimentar» português e propondo «um programa de repovoamento agrário do interior, criando oportunidades de sucesso para jovens agricultores».
Acontece que, há 20 anos, o professor Cavaco era o primeiro-ministro de Portugal com maioria absoluta, mas nessa altura as suas preocupações não se prendiam com défices alimentares ou sucessos de agricultores, jovens ou velhos: o seu empenho centrava-se no cumprimento escrupuloso dos ditames de Bruxelas, que ordenavam precisamente o contrário - o desinvestimento na produção agrícola nacional. E não se pense que a prestimosa CEE nos ia apenas às couves e aos nabos: o ataque era de raiz, por assim dizer, e praticou o abate sistemático de culturas inteiras e seculares, como as da vinha e as do olival.
Os 220 mil agricultores que, hoje, continuam a receber subsídios da União Europeia para não produzir já vêm desse tempo, quando o dinheiro vinha às carradas a «subsidiar» o desmantelamento programado da agricultura portuguesa – naturalmente para garantir a produção das potências agrícolas da União, nomeadamente a França e a Alemanha.
Fonte: Jornal "Avante!"