06 de Fevereiro de 2016

Museu_da_Presidencia_da_República_Palacio_de_BeleA eleição para a Presidência da República acentuou aspectos preocupantes e perigosos para a democracia.

Todas as candidaturas, com excepção de Edgar Silva e Marisa Matias, puseram a tónica, em grau diferente, no discurso anti partidos fragilizando a democracia. É certo que há partidos trampolins na promoção de patifes e que são o véu que esconde as negociatas do capital, mas a solução não passa pela personalização da política, passa pela participação efectiva dos trabalhadores na resolução dos problemas e pela defesa do interesse nacional na busca da igualdade económica, social e cultural. Quando afirmam que os partidos afastam os honestos e talentosos, recordo Arthur Koestler, “O receio de nos encontrarmos em más companhias não é uma expressão de pureza política; é uma expressão de falta de autoconfiança”.

Todas as candidaturas, com excepção de Edgar Silva e alguma contenção de Sampaio da Nóvoa, recorreram, com estilos distintos, ao populismo, à encenação e à mentira, sacrificando o esclarecimento, a discussão política, a necessidade de cumprir a Constituição.

A televisão assumiu ainda mais a função de televendas, “vende um Presidente da República” e “vende sabonetes” segundo Rangel, e promoveu candidaturas que melhor podem servir, neste momento, o capitalismo. As apostas foram, por motivos muito diferentes, Marcelo Rebelo de Sousa, Marisa Matias e Vitorino Silva.

Marcelo Rebelo de Sousa, produto televisivo, diz tudo e o seu contrário, está com capitalistas ou com comunistas, adaptou-se ao fascismo e à democracia, representa os interesses do capital, a continuidade da política neoliberal de Passos/Portas, foi, naturalmente, o candidato a eleger.

Marisa Matias representa a classe média aburguesada e descontente. Classe armada de justiça social, mas que não se identifica com a classe trabalhadora operária e explorada, aspiram a ascensão à elite. Marisa Matias, tal como Tsípras e Pablo Iglésias, são produtos da social-democracia a adaptar-se à crise capitalista. São reformistas, não representam no essencial a ruptura, são moldáveis como se verificou na Grécia. São um fundo de reserva do capitalismo.

Vitorino Silva, ingénuo e atrevido, dentro da legitimidade procurou, à sua maneira, palco. Serviu para ridicularizar e acrescentar ruído à campanha, agregando o voto de protesto inconsequente.

Edgar Silva foi, naturalmente, o alvo a abater não por características pessoais mas por representar um projecto de ruptura proposto pelo PCP. Valeu tudo. Desde a Coreia do Norte à análise falaciosa e maldosa.

Foi neste contexto, que Jerónimo de Sousa fez o comentário evitável, “candidato ou candidata engraçadinha…com discurso populista”. Mas não mentiroso e de má-fé. Aliás, Jerónimo Sousa já tinha usado a expressão, “não foi por termos um candidato [João Ferreira] engraçadinho que obtivemos este resultado”, nas eleições para o parlamento europeu onde a CDU obteve 12,68% dos votos.

Contudo a indignação foi geral com especial enfoque no BE.

Um dirigente local do BE afirma que a expressão é “sexista” quando sabe que estão referidos os dois géneros. Deveria o dirigente local reflectir sobre o motivo de Marisa Matias se enquadrar tão bem no comentário.

Não se indignou, porém, quando Marisa Matias, em directo, negou o voto a favor da resolução do parlamento europeu que permitiu a intervenção militar na Líbia. Isto é, Marisa Matias mentiu descaradamente, em directo, e tentou deixar por mentiroso quem (Edgar Silva) falava a verdade.

Não se indignou do populismo de apoiantes de Marisa Matias, no caso Mariana Mortágua que afirmou “não há nenhum deputado do BE com subvenção” como se algum deputado, actual e anterior, reunisse condições para requerer a subvenção.

Os resultados eleitorais são a expressão da campanha eleitoral demagoga e populista.

O PS tem grande responsabilidade na eleição de Marcelo Rebelo de Sousa ao demitir-se do combate político que era necessário travar. António Costa não assumiu nenhuma posição e esteve ausente do país durante parte da campanha desvalorizando por completo a eleição.

O candidato Edgar Silva foi um grande candidato pela energia, pela envolvência das massas, pelo projecto. Mas a candidatura não conseguiu corrigir o erro de cálculo que muitos eleitores cometeram ao votar Sampaio da Nóvoa para derrotar Maria de Belém na possibilidade da 2ª volta. A esses camaradas e amigos pergunto: Valeu a pena?

O resultado de Edgar Silva fica aquém do expectável, mas está longe de representar a influência política e eleitoral do PCP, esse facto fica claro na eleição autárquica intercalar de S. João da Madeira, realizada no mesmo dia, em que a votação da CDU foi triplo dos votos da eleição presidencial.

O PCP mantém todas as condições para continuar, com determinação e confiança, a luta e defesa dos trabalhadores, na construção de uma alternativa política alicerçada no projecto político, social e económico que rompe com a política de direita.

 

Mário Figueiredo - Publicado no Jornal Barcelos Popular

publicado por subterraneodaliberdade às 10:57
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